A pena escreve tal como dissesse
O que o papel, natureza-morta
Qual portador de boas novas
Pode carregar, mas jamais entender
E eu falo palavras tal como se ouvisse
Um velho amigo suas histórias contar
Sem embargo presente não possa estar
Deixarei palavras-vivas para ler
Quando ao final desta jornada
O tropeço inevitável lhe atingir
O portador irá lhe encontrar
E seu ouvido fará retinir
Com coisas que sabia
Outras que jamais imaginou
E verá as surpresas de um tempo
Que voou, mas não viveu
E, ao sentir de novo o aroma de café coado
A copa d’árvore de teto lhe aprouvendo
E uma mocinha incauta lhe acordando
Alguém que nunca viu
De olhinhos puros como a noite
Falando sobre coisas de um tempo
– Sinais, feras e portentos
Num momento vai acordar
E em segundos vai entender
A razão de não precisar
De lentes que o permitam ler
De como antes o frio incomodava
E de quem pediu p’ra seus pés cobrir
Foi o mesmo que um dia após
Sua gravata no lugar acertou
Mas não seria então engraçado
Pensar que nessa hora brincamos
Como crianças a se esconderem?
Não podemos apenas rir disso?
Te escondes – aqui estou!
Quando estás – não me vês!
Porém vale o lembrete
Que mesmo na brincadeira
Uma lágrima insistirá em escorrer.
Mas a Deus já pedi
Quando a vida lhe voltar
Que eu lá esteja p’ra te ver
Saberás que estou sem estar,
E que sou eu sem me enxergar,
Pelo meu amor.
– O portador lhe contará. Ele está aqui.