Prelúdio – Partida
A carregar-te em trilhas
Senda de grandes passos
Caminho de altas moradas
Guiar-te-ei pela mão, Sofia
Se me permite o espírito levar-te
Como nas asas de um colibri
Cavalgando em formosas plumas
Vai bem mais longe conhecer
Do que o finito lar pode ensinar
Se fechar os olhos verás
Que se abre imenso a expansão
De um mundo novo a cintilar!
Mas fechou-se:
– Abriu,
E voou!
O que ensinar, vais aprender
Quando a senda logo se abrir
E a outra página virar…
I – Inércia
Estrondosas rochas colidir-se
Matéria morta a revoar-se
Elementos quentes sobrepõe-se
– Formosa luz a rodear-te!
“Vejo, mais ainda não sei se é
Ou se o que parece não será…”
Não temas, amada
Pois a reluzente flâmula que vês
Uma fornalha há de se tornar!
Rochas se apegando
Como mãos umas às outras
No intérmino revolvível de seus mantos
Vão suas faces transformar!
E ele diz:
“Mudem, pois,
Transformem-se!
– Deem glória
A Jeová!”
II – Em Suas mãos
Será a vida bastante o suficiente
Para que deslocando viremos
Para o outro lado contemplar?
Como o face escura da lua
Almejando sempre nos ver
– Será surpreendente o desejar?
Nos esticando iremos
Talvez sua sombra, então,
Ou mesmo a pontinha dos pés
– Poderemos alcançar?
Seja conhecido pois
Que das eternas milhas viajantes
Com suas trincheiras de luz
– O seu tecido inteiro
Com belas bordas azuis
Esteve sempre ali
– Em Suas mãos.
III – Convite
Principia pois a planejar
Convite amável aos que virão
Àqueles que a terra devolver
Despertados pelo Mestre
Sugiro-te nomes, pequena
Como um sonho que verás
Tornando vívida uma cena
Para a qual te preparei:
Chamas Daniel
Fazes tortas p’ra Isaías
E um bom cozido a Ezequiel!
Inquire-os,
P’ra que tudo saibas
Do que viram
E o que seus olhos avistaram!
E verás o que não vês
Sem ver o que é visto
Porque tudo que enxergares
Será aquém da realidade
– Mas que te importa se assim é?
Tu tens eterno em teu coração
O precioso amor de Jeová.
IV – Faz a vez
Deixa então as que as criações
Narrem-lhe a descrição do Pai:
Quando, ao saíres pelo campo aberto
Ouvir a torrente que serpenteia a serra
A floresta densa irá uma história lhe contar
Suas aves, voando, narrarão decerto
Escute bravias águas espumar
E ouvirás assim a Sua voz:
O límpido cristal espelhado donde caem
P’ra mais segredos vai-se abrir
E com uma dança verdejante
O farfalhar no alto acima a ti
Te arrancará sorrisos a fartar
E seus muitos visitantes
Quer alados ou rastejantes
Irão de pronto agraciar-te
Faça a vez, querida
– Em meio aos meus amados
Daqueles que tal sina desprezaram…
V – Nas asas de Jeová
– Percebes enfim
Depois de tudo ouvir
– Consegues então
Sua forma perceber?
Mesmo depois
De o Universo passar
E veres o começo
O intermeio e o fim
Voltarás p’ra casa
A quedar no sofá da sala
Ponderando mil razões
Querendo assim se encontrar
E quando achar que não
Ouvirás o vento entrar pela janela
Assobiando em pios como um pardal
E tomará gentil teu coração
Olhos fecharás ‘travez
E em canções a levará
Aos poucos, sim, devagar
Nos passos do alvorecer
Sentirás então
Suas plumas a envolver
Abrasando em terno amor
Como em noites de verão
E ouvirás Sua promessa
Que fará somente a ti
– Não a outrem
E sentirás que é teu
Mesmo que todos tenham
A plenitude do Seu amor
Onde estiveres
Ele também estará
Pois andarás assim
No Seu caminho
Pois tal caminho
Reside em eterno abrigo
Nas asas de Jeová.
VI – Fragilidade
Teus belos olhos se abriram
E a primeira coisa que viram
Foi o azul do céu acima a ti
A imensa e delicada gase
Esticada pelas mãos de Jah
Banhando teu tenro olhar
Com o bálsamo doce n’alma
Não lembrarás
De tempos que não viveu
De tempos que não sofreu
Mas eu os conheci
E não me diga que achas vantagem
Do tempo de açoites e tijolos a secar
Verás brotar a gratidão
A cada ponto e lugar
Em que teus pés incautos
Vierem a tocar, dançando
Uma dança,
Talvez a dança das flores
Ou a valsa dos trigais:
“Bem acompanhada estás
Se o rebanho vem a rodear-te
Saltitantes pelo campo aberto
Da terra o seu dourado
Se estendendo até céu
– Vai veloz tua melodia carregar!”
E se a vida nova lhe enche a mente
E o vigor vital teu fôlego sustém
Com plena chama vai chamar:
Deixa, eleva, conduz
– Dê mil louvores a Jeová!
VII – Filhos de Jeová
Agora deixá-la-ei desfrutar
Dos primores de uma nova era
Anos de uma vida eterna
– Anos que jamais irás contar
Deixá-la-ei
Andar pelas guias da luz
E sorver o aroma que tem
As várzeas de girassóis
Deixá-la-ei
Voar por entre outeiros
Onde quer que queiras
Deitar, residir e pernoitar
Deixá-la-ei
Sabendo que não te olvidarás
Da chave bem guardada
Nos lugares que a plantei
Se na carruagem que a levou
Ouviste bem o segredo meu
Irás guardá-lo em teu coração
Apondo sobre ele qual selo
O selo de palavras que virão
Não importa a língua a se falar
Que é verdade para mim e para ti
Sem que haja diferença qualquer
Afinal – incomoda-te a distância?
Afirmo decerto que não, pois
Dos céus até os confins da terra:
– Hoje somos todos filhos de Jeová!