Apreciação

Rodopiam,
Seguem arfantes
Moribundas massas humanas
Em suas múltiplas direções.

Clamam: “Glória!”
Em suas crisálidas
Como cigarras
Que dizem os antigos

– explodir
Quando, na verdade, fazem
– implodir
Tal orgulho e egoísmo.

E o desprezo –
O desprezo do silêncio
Que atravessa a rotina e,
Rompendo com a lógica,
Rompe com fatos,
Rompe com razão.

Impulsionam-se
Em seus ímpetos
E em instintos
Quase como quadrúpedes,
Que sencientemente,
Agem e reagem
A estímulos ao seu redor.

Ultrapassam tudo:
Como a avestruz
Que pisa os próprios ovos,
Como a borboleta
Que em dias morrerá
Sem jamais apreciar
Sua própria cor.

Avançam…
Mas não prosseguem.

São insaciáveis.
Em suas vidas,
Com bolsos furados
Correm desvairados
Sem o menor sentido
Sem a menor direção
De ser.

Pois é no silêncio
Ao se apreciar
No avançar da mente
Que contempla-se
O que sempre esteve ali.

Mas… há o silêncio!
E a exultante paz
Da contemplação!

Quando se detém
Diminui-se o ritmo:

– Chega do frenesi das massas!

É a novidade
Do que sempre esteve ali.
É tão novo
Quanto velho.
É tão bom
Quanto um dia foi.

Sem embargo está aqui.
Mas, ora…
Sempre esteve!

É o olhar
O virar de ângulos
Em perscrutar a diferença
Para descobrir assim
Se a conjunção de sombras
Revela algum oculto brilho
Em seus anais.

Será que ainda há mais a descobrir?

A apreciação!
A apreciação!
O antídoto!

Contra a psique imperfeita
E seu vício
De adaptar-se,
Que ora me ajuda
Mas de frequente
Me atrapalha.

Não!
Não deixarei-me prender
Em rodopios intermináveis
De rotinas.

Rotinas…
Paredes de calcário, cimento, mármore
Ou seja lá o que forem
Que detenham meu olhar.

No girar dos seus ponteiros
É aí que a mente para

– e assombra-se!

Será que você consegue ver também?

Como as estrelas,
Que ao se ver de longe
De ligeiro seu movimento
Parece tal que não se move?

Uma luz
Que talvez não brilhe mais
Mas que ainda está ali
Enquanto durar.

Talvez você ainda possa vê-la…

Olhe para cima.

– Ela ainda está lá.

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