As bagas da videira secaram
As hastes do trigo apodreceram
O agreste campo faz uivos qual deserto
A campina expõe seus ossos em aberto
E das águas brotam formas
Esquecidas, coisas de outrora
E do chão saem pedras
Onde a várzea antes vicejava
Sua persuasão é tal
– Andante pelas plagas
Que se o verbal argumento lhe falha
Faz-se convincente pelo uso de tuas armas
Admirar-me-ei de tal feitio
Ou porei fé no mero andante?
Pois caminha sem a senda conhecer
Tateia às cegas para outros conduzir
– Temerei-te, mero andante?
As duas colunas que te erguem do pó da terra
São as mesmas que me fazem levantar.
Mas, se o mero andante quer me privar
E a raiz terrena, mais depressa decepar
– Que corte-a, infante
Pois a chama de uma eterna vida
Tu jamais poderás apagar!
Tu és – eras um mero andante
E te atormenta a diária lembrança
De quem agora pode voar.