É preciso consciência, e mais que isso, autoconsciência, a saber, a clara percepção de seus próprios pensamentos e sentimentos, e que, uma vez obtida tal compreensão, deve-se direcionar de forma efetiva a mente e o coração no objetivo de preservar o equilíbrio e a estabilidade na vida, salvaguardando sua relação com Deus e seu próprio coração, sim, a pessoa secreta do seu coração.
Deve-se saber que a vida não é uma linha reta absoluta. Antes, desenvolve-se com belas linhas fractais, em ramificações complexas e intrincadas. Começa com alguém: pode ser eu mesmo, ou você, e já somos dois. Dois é fractal. Mas não fica apenas nisso. Envolve a trama das roupas, lavar e passar. O perfume. A bebida e o convite. Uma igreja e a pequena fita para recordação. Ah, e o amigo para gravá-la.
Depois disso, já são três. Três é fractal. Multiplicam-se acessos. É o hospital, remédios, fraldas, a poeira da estante (que isso nunca aconteça!).
Daí, a mudança em busca de um ar mais puro. E o ar, quem diria, mudou mesmo: do separo à união, do destilado, da fumaça, das armas – ao mergulho batismal!
Um folheto. Um nome – melhor – O Nome. Um jabuti. Uma escada. Cachorros.
E os fractais se multiplicam por rondar a rua das decisões: uma loja, barcos, peixes, uma entrevista, nódulos, plano de saúde e internações, dentes que caem (que nunca se reporam), uma escrivaninha, fotos e mais fotos.
E… há o beco das tormentas: ratos, um escorregão, remédios, destilados, ligações, o dia da chuva e de se correr nela, uma faca e mais internações.
Daí, virando à direita, os fractais se desmembram em ruas memoriais, com pipocas, um televisor e um jogo. Algumas risadas de vez em quando. Lanches (isso foi um pouco antes). O arroz de dias que se estilinga pelo chão. E os cães que comemoram.
Nesse meio tempo, há uma ruptura no crescimento dos anéis. Vê-se um ligeiro desvio, seguido por uma jornada singular, invisível a olhos destreinados, mas que ocorreu no meio do mundo, e sem que o mundo soubesse. O (re)descobrimento, o (re)juramento, e a nova vida que se segue. Isso era do terceiro.
Um romance juvenil. O encanecer do mesmo, seguido de uma viagem. Bigodes (assunto delicado). Mais ligações. Um cômodo apertado. Peças de roupa penduradas. Como é abrir os olhos e já vê-las todo dia? Pior é quando a porta não é porta, e não detém baratas, bêbedos e outras coisas das quais não convém se mencionar aqui…
Daí vem a era de ouro: os olhos cor de mel. Há certa paz que adentra à vida quando o homem encontra seu verdadeiro amor. E é assim mesmo.
No entanto, enquanto a distância das linhas aumenta, em um momento suas curvas se encontrarão, talvez aqui, ou ali – quem sabe quando! E é dessa forma que as coisas ocorreram na época do vírus, sim, um que dividiu as pessoas e as devastou. Um cômodo na casa. Tijolos. A ligação. A prudência. A (quase) profecia! Não se pode achar que a pulsante vida que nos sustém é imparável. Necrose. Obstrução. Uma semana. Morte.
Foi aí que começou outro ciclo novamente… Viagem, cartórios, carro. Mudanças. E a psique que não ajuda. Segurar as pontas. Entender neurônios, sinapses e coisas desse tipo.
Acelerando: de uma mudança, duas. E de duas, três. De três, um matrimônio! Sendo apenas expectador, só podia observar o que se sucederia: desentendos, um carro, carros, o acidente, tosse, exames. Degringolando, temos cuidadoras e a expectativa de novas mudanças. Saber que morreria em minha casa. E nos preparar pra isso.
Mas não foi assim. Há 4 dias, tudo terminou. Como ele, ela dormiu em paz. Dormindo ficou. Foi sobre isso que falei em Sete Vidas.
Assim, a história passa diante dos olhos de quem ficou, com a mais plena certeza de os fractais continuarão a velejar e se multiplicar pelas correntes incertas da vida, até que a questão maior seja totalmente resolvida, e tudo volte a ser como deveria.
Naquele dia, olharão para si mesmos, com espanto, com memória cintilante, com coração acelerado. E irão lembrar, talvez, do leito, das luzes no corredor, dos apitos, dos médicos, e dos planos para o outro dia.
Só que isso já não importa mais.